Para o povo de Itaporanga D. Salomé Pedrosa é a síntese da bravura, da lealdade e do caráter que sempre nortearam as mulheres de Misericórdia. Sobre D. Salomé conta-se muitas histórias. Pequenina, rica, sempre elegante, pisando firme do alto dos seus sapatos coma alguns centimetros de salto, Salomé, casada com Josué Pedrosa, um misto de financista, industrial e agropecuário, não dispensava o perfume francês e era figura presente em todos os acontecimentos da cidade. Foi madrinha de quase todas as crianças que nasceram na sua época.
Três histórias que contam sobre ela são bem representativas do seu espirito evoluído e justiceiro. Certa feita, uma prostituta, moradora do baixo meretrício de Itaporanga, estava em vias de dá a luz a uma criança, mas na cidade não tinha quem fizesse o parto. D. Salomé, informada sobre o que estava acontecendo, foi pessoalmente cuidar da meretriz. A cidade assombrou-se com a sua atitude, afinal a cona boêmia era lugar proibido para uma senhora casada. Para ela, no entanto, aquela era apenas uma mulher precisando de ajuda, pouco importando o que ela era e o local onde se encontrava. De outra feita, quando da vitória do Movimento Liberal, em 1930, a Polícia Militar, estimulada pelos novos donos do poder, saiu à caça prendendo simpatizantes do perrepismo, representado no sertão pelo coronel José Pereira. Apesar de toda a fúria policial, as prisões não passaram de duas ou três. Todas de pessoas humildes. D. Salomé, soube do que estava ocorrendo e, sem papas na língua, exigiu a libertação dos presos pobres e a prisão dos perrepisas ricos. A cadeia ficou vazia. Os pobres foram soltos e os mais abastardos apontados por ela nunca chegaram às celas.
Pacifista por natureza, a D. Salomé não interessava o tamanho do perigo desde que fosse para servir ao próximo. Itaporanga sempre cultivou inimizades entre famílias. A maior e todas elas, e que até hoje perdura, envolve os membros do Genipapo e os Nitão. No auge da querela, a mulher de Chico Nitão estava entre a vida e a morte. Debatia-se há dois dias com as dores de um parto que não se consumia. Era preciso a intervenção de um médico e o único da cidade era Dr. José Gomes, inimigo de sangue dos Nitão. D. Salomé resolveu intermediar a questão. Foi até Zé Gomes e pediu que ele cumprisse com o seu juramento de médico, e este, após algumas ponderações concordou em atender a paciente desde que o seu marido não estive em casa. Feito o acordo, o médico foi até a residência do inimigo e salvou a mulher e o menino que nasceu forte e sadio. Quando Dr. José Gomes deixava a casa de Chico Nitão o encontrou sentado a alguns metros. Nitão quis saber então quanto devia ao médico pelos seus serviços. Zé Gomes respondeu-lhe que ele não lhe devia nada. Foi a última vez que eles se falaram, dando continuidade a guerra entre suas famílias que perdura até hoje (em pleno século XXI, ano de 2008).
Assim era D. Salomé Pedrosa: firme, presente, solidária. Aliás, a disposição pelo bem público é uma das acaracterísticas da família Fonseca. É, pois, síntese da altivez de todas as mulheres de Misericórdia. Um exemplo para os jovens e adultos de Itaporanga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário